Doutor em neuroimunologia, neurocientista, professor universitário, escritor, palestrante e profissional do desenvolvimento humano. E-mail para contato: pitangabruno@gmail.com ou Instagram: @brunopitanga_neurocientista
sábado, 4 de abril de 2015
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Buraco na alma
A
cidade de Berlim é sem dúvida uma escola. Um local de reflexões profundas sobre
reforma, reconstrução e, é claro, crescimento moral.
Suas
ruas ainda choram as cicatrizes da segunda guerra mundial. É possível observar
ao caminhar pela cidade igrejas, museus e até mesmo prédios residenciais com
marcas de balas. A cidade de Berlim ainda apresenta o cheiro da pólvora. Enfim,
marcas de um passado próximo que ainda grita.
Ao
analisar todo esse cenário surge uma reflexão: Qual o sentido em ainda mostrar
as marcas de uma guerra? Existem duas possibilidades de respostas: atrair
turistas ou expor ressentimentos. Penso que a segunda resposta seja a mais
apropriada. Precisamos mostrar que estamos ressentidos, caso contrário nossas
carências não terão a atenção desejada.
Alguém
ressentido terá a necessidade de falar sobre seus sentimentos e, para isso,
deixará suas fragilidades expostas. Quando trabalhamos os ressentimentos não
precisamos mais falar sobre o sentimento passado. Podemos lembra-los, mas
jamais necessitar expô-los. A superação de um ressentimento nos torna fortes,
verdadeiros Hércules. Por isso, caminhar nas ruas de Berlim faz pensar: quantos
ressentimentos ainda precisamos expor para que tenhamos em troca a atenção? A
verdadeira superação é livre de qualquer ressentimento.
No
entanto, a reconstrução dessa cidade foi fantástica. Praticamente toda a cidade
foi reconstruída após a segunda guerra mundial. O mais impressionante foi a
rapidez. Nesse contexto, penso que a rapidez da reconstrução vai contrário a
cura do ressentimento. Para trabalhar um ressentimento é necessário tempo. Nada
adianta correr para reconstruir e ainda continuar ressentido. Discordo de
Caetano Veloso quando diz na música Chuvas de verão: “Ressentimentos passam como o vento, são
coisas de momento, são chuvas de verão.”
É um pensamento bastante romântico, lindo. Mas não é isso que observamos.
Utilizamos uma maquiagem para esconder nossos problemas, mas na verdade
continuamos profundamente destruídos.
Com
isso, observamos pessoas que se dizem reconstruídas ou reformadas pouco tempo
após algum conflito. Dizem que estão bem. Na verdade não é isso que acontece.
Percebo que desejam expor suas magoas e, no mesmo momento, revelam suas
cicatrizes ainda abertas. Essas pessoas
não têm paciência para a verdadeira reconstrução. Preferem engana-se a procurar
ajuda.
Por
isso, precisamos nos aliar ao tempo com bastante paciência. Desta forma
transformaremos esses ressentimentos em degraus para o crescimento moral. Devemos lembrar que os problemas que
enfrentamos são de fundamental importância. Não conseguiríamos o amadurecimento
moral sem eles. Paciência, essa é a palavra certa. Paciência é o verdadeiro
remédio para qualquer ressentimento. Muitas vezes não estamos maduros o
suficiente para resolver determinado problema, mas com paciência poderemos
adquirir a maturidade para entender a importância daquele momento vivido. Assim conseguiremos o avanço moral. Já na
música oração ao tempo também de Caetano Veloso, concordo plenamente quando diz:
“(...) tempo, tempo, tempo, tempo és um dos deuses mais lindos(...)”.
Marcas de bala nas paredes do Neues Museum, Berlim - Alemanha. Foto: Gustavo Rodrigues. |
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