“Eu
não tenho mais a cara que eu tinha. No espelho essa cara já não é minha. É que
quando eu me toquei achei tão estranho. A minha barba estava deste tamanho.” Nando
Reis.
Ganhei
de
presente essa foto. Da minha querida tia e madrinha Jussara Pitanga, a qual
tenho um enorme carinho e gratidão. Acho que deveria ter uns 10 anos, sei lá!
Lembro apenas que essa foto foi tirada na praia de Subaúma, a cento e vinte
quilômetros de Salvador (Bahia). Íamos sempre passar as férias nessa praia,
toda a família. Momentos que jamais serão esquecidos. Hoje adulto entendo a
importância desse local para a formação da minha personalidade, pois lá pude
conviver com outra realidade, diferente da observada aqui na metrópole. Pude
sentir a verdadeira liberdade, entendi a importância de estar conectado com a
natureza e percebi também que existiam pessoas que precisavam muito mais do que
eu, mas mesmo assim, com todas as dificuldades, nunca perdiam a alegria de
viver. Gostaria que vocês as conhecessem e também aprendessem com elas, como eu
fiz na minha velha infância.
Dessa
época
recordo com muita saudade e carinho das queridas lavadeiras que trabalhavam no
rio Subaúma. Na década de oitenta era muito comum encontrá-las por lá. Surgi em
meus pensamentos um momento que vivi junto com elas. Uma lição incrível. Vamos
precisar voltar ao passado... Como já disse deveria ter uns 10 anos!
Era um
dia de sol, mas nesse dia não conseguia ver o brilho desse astro. Estava um
pouco triste pois havia brigado com um amiguinho, coisa de criança. Sair para passear, ver os pássaros, as
árvores, mas quando olhei para o rio lá estavam elas, as lavadeiras do rio
Subaúma. Eu já conhecia a maioria delas!
Sentei na beira desse rio e pensei: Quanta alegria e felicidade elas
esbanjam. O que mais me impressionava era o fato daquelas mulheres serem
bastante pobres, muitas moravam em casas de barro e outras tantas tinham
dificuldades para ter duas refeições por dia!
Mas apesar disso tudo, olhava para o rosto delas e percebia a alegria de
viver em todas, sem exceção. Então refleti: Quanta alegria em lavar as roupas.
Me aproximei do grupo e perguntei à elas: Vocês estão brincando de lavar
roupas? Ao que uma delas respondeu: Minha vida é uma eterna brincadeira, não
sei nem se vou comer hoje, mas estou viva, estou alegre, estou em paz. E lançou
para mim a pergunta: Quer brincar com a gente? E eu não perdi tempo. Entrei
logo na brincadeira também! Incrivelmente a tristeza infantil que estava dentro
da minha alma naquele momento desapareceu. Minha luz voltou a brilhar, pude
sentir novamente a alegria de viver. Diante disso pergunto a vocês. Onde está
sua alegria de viver? Vamos pensar sobre isso.
Georges
Bernanos,
escritor e jornalista francês, disse: “Saber encontrar a alegria na alegria dos
outros, é o segredo da felicidade.” Falou também a grande Madre Tereza de
Calcutá: “À todos os que sofrem e estão sós, daí sempre um sorriso de alegria.
Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração.”
É
verdade, podemos encontrar alegria também ao ver o outro alegre. Quando percebi
que as lavadeiras estavam alegres, meu cérebro se conectou com o delas, e
reconheceu a alegria que estava dentro da minha alma, mas escondida. Precisava
apenas ser despertada! Concordem que a alegria é contagiosa e precisamos
transmiti-la cada vez mais, pois desta forma essa força irá transcender e
envolver todos desse planeta. E até mesmo de outros!
Não posso
deixar de citar também a querida Irma Dulce: “Façamos de cada dia da nossa vida
um dia santo. Façamos tudo para nos santificar cada vez mais, servindo a Deus
na pessoa do próximo, com amor e alegria.” Lembrem que essa Santa mesmo doente
não perdia a alegria de viver para poder ajudar o próximo, conseguindo com isso
incendiar de felicidade e fé a alma dos seus assistidos. Por isso emanem sempre
a sua alegria, em qualquer circunstância!
Hoje adulto,
quando percebo alguém triste ao meu lado, lembro sempre das queridas lavadeiras
do rio Subaúma, que ao demostrarem sua alegria acordaram a alegria que dormia
dentro da minha alma. Pois como disse o querido Guilherme Arantes: “Como eu sou
feliz, eu quero ver feliz. Quem andar comigo, vem.”
Bruno Pitanga - arquivo pessoal. |