Sinto muito por todos,
Sinto muito. Sinto muito mesmo.
Como uma vela que acaba seu fogo, assim
me sinto.
Preciso do fogo. O fogo que alimenta
minha alma de sentimentos.
Saudade, serenidade, sinceridade,
solidariedade. Sumiram!!!
Como parafina que sustenta o fogo da
vela. Somente teremos o sucesso, quando esses sentimentos retornarem.
A vela queima. Vai queimar até esgotar
suas forças. Observem uma vela.
Minhas forças acabaram. Desisto. Não há o
que possa ser feito.
Desisti de tentar acender a vela das
pessoas, todos já estão com o pavio curto.
Saudade. Não existe mais. Existem apenas
lembranças de momentos, mas que logo também serão esquecidos.
Serenidade. Não existe mais. Existe
apenas uma espécie de calmaria, mas que logo é destruída quando exige
autocontrole.
Sinceridade. Não existe mais. Existe
muita falsidade. Todos são falsos, inclusive consigo mesmo.
Solidariedade. Não existe mais. Muitos
tentam, mas gostam da solidariedade paga. E gostam do pagamento imediato.
O pavio está curto. Curto ao ponto de
queimar o castiçal, mas antes de queima-lo, o fogo vai apagar.
Preciso do fogo. Muitos já tentaram levar
esse fogo em uma tocha e reascender em todos esses sentimentos.
Tentaram ensinar a sentir a verdadeira
queimação de uma saudade. Mas sentem saudade na velocidade que queima a
pólvora.
Tentaram ensinar a sentir serenidade. Já
olharam uma fogueira queimar? Serenamente vemos o fogo consumir a madeira. Mas
vejo muitos colocarem lenha na fogueira evitando a serenidade.
Tentaram ensinar a sentir sinceridade.
Mas como? Foi queimada completamente da essência humana.
Tentaram ensinar a sentir solidariedade.
Até tentamos ajudar o amigo a acender sua chama. Mas logo mais tentaremos de
alguma forma cobrar nossos direitos.
A vela apagou. Não aguento mais. Não
quero mais. Não preciso mais.
Espero que consigam acender a chama dos
sentimentos.
Muitos estão com a chama na mão, como uma
tocha. Tentando acender a vela das pessoas.
Permita que acendam sua vela.
Os sentimentos retornarão. Seus
sentimentos voltarão.
Não desistam como eu. Estou sendo fraco.
Sinto muito.
Sinto muito mesmo.
Carta poema produzida por Bruno Pitanga através do espírito de Filippo Marinetti (1876-1944).