Chorei muito quando aqui cheguei. Não
entendia o que ocorria.
Luzes acendiam por onde ocorriam
pensamentos que ascendem nossa existência.
Mesmo assim chorava. Não queria acreditar
que tudo estava acabado.
Chorei lagrimas não choradas antes. Eram
como se fossem nascentes de um rio.
Todo aquele sentimento reprimido é agora
forçado a ser expelido da alma.
Parecia um ritual de purificação. Quando
me dei conta, observei vários outros assim como eu, pensando e chorando.
Todos lamentavam alguma coisa, alguns
conversavam consigo mesmo, outros debatiam-se no chão buscando apoio.
Em um momento pensei que chovia, pois os
rostos molhados lembravam uma leve chuva lambendo nossos rostos.
Sentei próximo a uma senhora. Sua tristeza
me impressionava. Quando percebeu minha presença, disse: - Não fiz metade do esperado.
Em outro momento, ouvi uma conversa entre
dois jovens. Lamentavam seus desenganos.
Percebi também uma criança aflita à procura
dos pais. Juntos fomos à procura deles.
Logo em seguida constatei que todos
aqueles que ouvi refletiam minha imagem, faziam parte de mim.
Lembrava dos projetos que não realizei. Nesse
exato momento a imagem da senhora triste misturou-se a minha.
Lembrava dos desenganos. Todos os lamentos
dos jovens penetraram meus pensamentos.
Diante desse cenário desolador, lembrei
dos meus pais. A criança surgiu em minha memória. Estavam sempre dispostos a me
ajudar. Porque não procurei o apoio
deles?
Queria volta para revê-los.
Mas estava aqui, em um lugar desconhecido,
completamente estranho, onde nunca estive.
Como cheguei? Como pude parar aqui?
Quanto mais libertava minhas lamentações,
mais ouvia os gritos de um eco sofrido. Quanta tristeza!
Aquela senhora disse: - A culpa foi sua.
Perdeu seu precioso tempo!
Os jovens aproximaram-se e perguntaram ao
mesmo tempo: - Gostou de ser enganado? O desengano dói!
E a criança? Quando estava em desespero
apareceu, segurou minha mão e disse:
- Seus pais estão chamando. Venha!
- Seus pais estão chamando. Venha!
Adormeci.
Segundos depois lá estava. Deitado no sofá
da minha casa sendo acolhido por meus pais.
Disseram que tinha tentado o suicídio, mas
a dose do medicamento não foi suficiente.
O medicamento apenas tinha aberto meu
inconsciente, revelando meus lixos mentais armazenados.
Agora que já estou melhor, não perderei
tempo. Serei fiel a mim mesmo.
Não quero voltar aquele local novamente.
(Texto baseado no relato de um jovem após tentar o suicídio).
(Texto baseado no relato de um jovem após tentar o suicídio).
O Grito, 1893, óleo sobre tela, 91 x 73 cm. Edvard Munch |