São vários os
relatos que escuto após alguma palestra, depoimentos sobre as causas do
sofrimento, as tristezas que machucam, a lágrima derramada... escuto com o
ouvido da alma e dou permissão às forças do Universo para atuarem sobre mim,
pois sei que assim serei intuído sobre a palavra que deverá ser dita naquela
hora, que tem como objetivo consolar aquele ser cansado de viver. Dentre os
inúmeros depoimentos um me chamou muito a atenção, e quero poder compartilhar
com vocês. Trata-se de uma garotinha de quinze anos, que aprendeu muito cedo
sobre a tristeza, depressão, melancolia e a dor de uma carência.
Cheguei no teatro
da escola, e logo fui chamando para o palco. Era uma palestra para jovens entre
15 a 17 anos. Me concentrei e comecei, o tema era o seguinte: “Eu posso, eu
quero, eu consigo”. Mas nessa palestra, assim como em outras, ocorreu uma
intuição, parece que o Universo direciona as minhas condutas nas palestras. As Forças Universais pediram que chamasse
alguns jovens ao palco, lá eles deveriam relatar sobre suas alegrias, sobre
aquilo que te dá motivação para continuar vivendo, que falassem seus sonhos.
Assim o fiz, chamei dois jovens, um garoto e uma garota, ambos com quinze anos.
O garotinho falou que estava feliz pois conseguiu falar para os amigos o quanto
ele os amava, e que ficou mais feliz ainda quando escutou que o amor que ele
sentia era recíproco. Foi muito aplaudido, e aproveitei o gancho para conversar
com os outros jovens sobre a importância de falar sobre os seus sentimentos.
Citei um trecho de uma linda poesia de Clarisse Lispector. O título é o peso da
alma. Diz Clarisse: “Minha alma tem o peso de uma palavra não dita, prestes
quem sabe a ser dita”. Percebi que plantei uma sementinha naqueles garotos e
garotas, pois todos ficaram em um momento de reflexão.
Agora era a vez da
garotinha, era o momento dela relatar suas alegrias. Ela pegou o microfone e já
começou a chorar, neste momento a abracei e disse: “Não precisa falar, só fale
se realmente quiser”. Mas ela insistiu que queria falar, que precisava contar
para todos os colegas sobre a sua alegria. Então ela respirou fundo e começou: “Estou
muito feliz e ao mesmo tempo triste. Hoje meu dia foi maravilhoso, vou
agradecer a Deus por esse dia para sempre. Hoje encontrei minha paz e felicidade.
Mas junto com todos esses sentimentos me sinto triste também, angustiada, com
medo”. Percebi que todos no auditório estavam atentos para o que ela ia dizer. Então
ela disse: “Meu pai hoje perdeu o emprego, trabalho que era fundamental para
manter a nossa família, não sei o que será de nós agora”. E ela continua o
desabafo em meio a muitas lagrimas: “Esse é o motivo da minha tristeza, a
demissão de meu pai. Mas estou feliz também, estou confusa”. E perguntou a
plateia olhando para mim: “É possível acontecer isso? Alegria e tristeza ao
mesmo tempo?” E continuou: “Tenho quinze anos de idade, e durante todo esse
tempo meu pai nunca havia almoçado
comigo, ele não tinha tempo. Mas hoje por causa da sua demissão, ele foi
almoçar em casa, e juntos almoçamos em família. Senti uma alegria incrível,
queria mesmo era parar o relógio para sempre naquele momento”. Ela foi
aplaudida pelos colegas e a abracei. Todos na plateia se sensibilizaram com o
desabafo da garotinha, inclusive eu. Encerrei a palestra com alguns comentários
e sai do palco muito emocionado, e aí pensei: Quantas famílias hoje ainda
almoçam juntas? Lembro que na minha infância isso era uma obrigação. O almoço
só era servido com todos juntos na mesa, seguido por uma oração! Hoje sei que
essa atitude de meus pais foi fundamental para a construção da minha
personalidade; personalidade essa que me orgulha muito.
Parece que as
famílias se dissolveram, e os adolescentes estão com a alma aflita, perdidos.
Para silenciar suas dores preferem recorrer as drogas, mas de quem será a
responsabilidade? Dos jovens, dos pais ou da sociedade? Certamente dos pais,
que deixam a educação dos filhos nas mãos da escola. Agora entendo porque nosso
mundo está assim. Com muitos adultos orgulhosos, prepotentes e com vários
transtornos psicológicos. Peço à você,
pai ou mãe, que lê esse texto: Faça o impossível para estar junto ao seu filho
ou filha. Teremos um mundo melhor se você fizer a sua parte como pai ou mãe. Se
aconteceu de ter um filho ou filha, assuma a responsabilidade da sua educação. Por
isso, agora mesmo, chame logo seus filhos para um almoço ou jantar. Vamos assim
contribuir para um mundo melhor.