Adoro
as noites, em especial as noites de lua cheia. São místicas e misteriosas. Me
deixam pensativo, permitindo expandir a imaginação. Mas nem todas as noites são de lua cheia, e
mesmo assim continuam despertando minha consciência. Foi exatamente isso o que
aconteceu.
Estava
tentando dormir e não conseguia, pois existia um problema de difícil solução.
Nunca pensei que pudesse passar por isso em meio a cidade grande! Mas
aconteceu. Um galo. Um galo cantante. O galo resolveu cantar durante toda a
noite. Como pode? O que fazer? Levantei da cama e iniciei uma pesquisa na
internet sobre o canto noturno do galo. Foram várias as explicações. Um site
dizia que era o chamado da morte, outro afirmava que era o chamado da chuva. Um
dizia que era a demarcação de território, outro dizia que era a dança do
acasalamento para atrair fêmeas. Não sei em quem acreditar! O site que mais
chamou minha atenção dizia para comprar um facão, ou melhor, um cutelo, e
decapitar o galo. Não tenho essa coragem! Nada de respostas, apenas sugestões
pouco fundamentadas. Já eram 04h da manhã, e o galo... O galo cantava feliz da
vida. Qual a lógica em comprar um galo e cria-lo em uma metrópole? O galo ficou
louco, pensei!
Quando
iniciava o cochilo, o canto me despertava. Nesses momentos queria mesmo era
comprar o cutelo. Que noite! Entretanto, percebi algo interessante. Na verdade,
não era o galo que estava tirando meu sono. Existia algo muito mais profundo. O
galo era apenas um instrumento para o despertar da consciência. Percebi que
nossa consciência gosta de dormir bastante, e recusa-se despertar.
Enquanto
o galo cantava, pensava nos lixos mentais que acumulamos. Como caminhões de
lixo, assim muitas vezes encontramos nossas mentes. Ressentimentos, magoas e
frustações, são apenas alguns exemplos de lixos mentais. Pensava sobre tudo
isso. Refletia sobre as dores do mundo, como somos difíceis. Temos dificuldades
para viver em grupo, queremos ser o foco das atenções, queremos, queremos e
queremos.... Na verdade, queremos suprir nossas carências. Queremos ser os
donos da verdade. Queremos o sucesso a qualquer preço.
Enquanto
o galo cantava, lembrei de um grande filosofo chinês chamado Confúcio. Ele
afirmava que precisamos exercitar a coragem, a sabedoria e a benevolência.
Coragem para destruir os velhos conceitos entranhados na mente. Sabedoria para
entender que ser o dono da verdade não significa inteligência, muito pelo
contrário, significa a falta dela. Benevolência para contribuir com o sucesso
do outro, e consequentemente ter a ajuda para conseguir o seu sucesso. Pois
sabemos que dessa forma o universo irá conspirar a nosso favor. Não tenha
dúvidas.
Enquanto
o galo cantava, a minha consciência despertava. Percebi que muitos ainda
apresentam essência de gladiadores prestes a entrar no Coliseu. Gostam de
destruir o próximo. Percebi que muitos agem como os crocodilos, derramando uma
falsa lágrima, somente para impressionar. Percebi que a grande maioria ainda
age como o lobo mau da fábula da chapeuzinho vermelho, são verdadeiros
dissimuladores, escondendo seu verdadeiro propósito para conseguir o objetivo.
Depois
disso tudo pensei: Esse
galo despertou minha consciência.
Talvez esse tenha sido o objetivo do vizinho. Despertar a sua própria
consciência, não sei! Por fim, na manhã seguinte, fui até uma loja que vende
pintinhos e comprei três. Presenteie meus melhores amigos e disse: “Não se espante, logo verá a importância
dele. ”