sábado, 10 de junho de 2017

Memórias das lavadeiras do Rio Subaúma

“Eu não tenho mais a cara que eu tinha. No espelho essa cara já não é minha. É que quando eu me toquei achei tão estranho. A minha barba estava deste tamanho.” Nando Reis.
Ganhei de presente essa foto. Da minha querida tia e madrinha Jussara Pitanga, a qual tenho um enorme carinho e gratidão. Acho que deveria ter uns 10 anos, sei lá! Lembro apenas que essa foto foi tirada na praia de Subaúma, a cento e vinte quilômetros de Salvador (Bahia). Íamos sempre passar as férias nessa praia, toda a família. Momentos que jamais serão esquecidos. Hoje adulto entendo a importância desse local para a formação da minha personalidade, pois lá pude conviver com outra realidade, diferente da observada aqui na metrópole. Pude sentir a verdadeira liberdade, entendi a importância de estar conectado com a natureza e percebi também que existiam pessoas que precisavam muito mais do que eu, mas mesmo assim, com todas as dificuldades, nunca perdiam a alegria de viver. Gostaria que vocês as conhecessem e também aprendessem com elas, como eu fiz na minha velha infância.
Dessa época recordo com muita saudade e carinho das queridas lavadeiras que trabalhavam no rio Subaúma. Na década de oitenta era muito comum encontrá-las por lá. Surgi em meus pensamentos um momento que vivi junto com elas. Uma lição incrível. Vamos precisar voltar ao passado... Como já disse deveria ter uns 10 anos!
Era um dia de sol, mas nesse dia não conseguia ver o brilho desse astro. Estava um pouco triste pois havia brigado com um amiguinho, coisa de criança.  Sair para passear, ver os pássaros, as árvores, mas quando olhei para o rio lá estavam elas, as lavadeiras do rio Subaúma. Eu já conhecia a maioria delas!  Sentei na beira desse rio e pensei: Quanta alegria e felicidade elas esbanjam. O que mais me impressionava era o fato daquelas mulheres serem bastante pobres, muitas moravam em casas de barro e outras tantas tinham dificuldades para ter duas refeições por dia!  Mas apesar disso tudo, olhava para o rosto delas e percebia a alegria de viver em todas, sem exceção. Então refleti: Quanta alegria em lavar as roupas. Me aproximei do grupo e perguntei à elas: Vocês estão brincando de lavar roupas? Ao que uma delas respondeu: Minha vida é uma eterna brincadeira, não sei nem se vou comer hoje, mas estou viva, estou alegre, estou em paz. E lançou para mim a pergunta: Quer brincar com a gente? E eu não perdi tempo. Entrei logo na brincadeira também! Incrivelmente a tristeza infantil que estava dentro da minha alma naquele momento desapareceu. Minha luz voltou a brilhar, pude sentir novamente a alegria de viver. Diante disso pergunto a vocês. Onde está sua alegria de viver? Vamos pensar sobre isso.
Georges Bernanos, escritor e jornalista francês, disse: “Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.” Falou também a grande Madre Tereza de Calcutá: “À todos os que sofrem e estão sós, daí sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração.”
É verdade, podemos encontrar alegria também ao ver o outro alegre. Quando percebi que as lavadeiras estavam alegres, meu cérebro se conectou com o delas, e reconheceu a alegria que estava dentro da minha alma, mas escondida. Precisava apenas ser despertada! Concordem que a alegria é contagiosa e precisamos transmiti-la cada vez mais, pois desta forma essa força irá transcender e envolver todos desse planeta. E até mesmo de outros!
Não posso deixar de citar também a querida Irma Dulce: “Façamos de cada dia da nossa vida um dia santo. Façamos tudo para nos santificar cada vez mais, servindo a Deus na pessoa do próximo, com amor e alegria.” Lembrem que essa Santa mesmo doente não perdia a alegria de viver para poder ajudar o próximo, conseguindo com isso incendiar de felicidade e fé a alma dos seus assistidos. Por isso emanem sempre a sua alegria, em qualquer circunstância!
Hoje adulto, quando percebo alguém triste ao meu lado, lembro sempre das queridas lavadeiras do rio Subaúma, que ao demostrarem sua alegria acordaram a alegria que dormia dentro da minha alma. Pois como disse o querido Guilherme Arantes: “Como eu sou feliz, eu quero ver feliz. Quem andar comigo, vem.” 
Bruno Pitanga - arquivo pessoal.