sábado, 12 de maio de 2018

No palco a alegria e a tristeza


São vários os relatos que escuto após alguma palestra, depoimentos sobre as causas do sofrimento, as tristezas que machucam, a lágrima derramada... escuto com o ouvido da alma e dou permissão às forças do Universo para atuarem sobre mim, pois sei que assim serei intuído sobre a palavra que deverá ser dita naquela hora, que tem como objetivo consolar aquele ser cansado de viver. Dentre os inúmeros depoimentos um me chamou muito a atenção, e quero poder compartilhar com vocês. Trata-se de uma garotinha de quinze anos, que aprendeu muito cedo sobre a tristeza, depressão, melancolia e a dor de uma carência.
Cheguei no teatro da escola, e logo fui chamando para o palco. Era uma palestra para jovens entre 15 a 17 anos. Me concentrei e comecei, o tema era o seguinte: “Eu posso, eu quero, eu consigo”. Mas nessa palestra, assim como em outras, ocorreu uma intuição, parece que o Universo direciona as minhas condutas nas palestras.  As Forças Universais pediram que chamasse alguns jovens ao palco, lá eles deveriam relatar sobre suas alegrias, sobre aquilo que te dá motivação para continuar vivendo, que falassem seus sonhos. Assim o fiz, chamei dois jovens, um garoto e uma garota, ambos com quinze anos. O garotinho falou que estava feliz pois conseguiu falar para os amigos o quanto ele os amava, e que ficou mais feliz ainda quando escutou que o amor que ele sentia era recíproco. Foi muito aplaudido, e aproveitei o gancho para conversar com os outros jovens sobre a importância de falar sobre os seus sentimentos. Citei um trecho de uma linda poesia de Clarisse Lispector. O título é o peso da alma. Diz Clarisse: “Minha alma tem o peso de uma palavra não dita, prestes quem sabe a ser dita”. Percebi que plantei uma sementinha naqueles garotos e garotas, pois todos ficaram em um momento de reflexão.
Agora era a vez da garotinha, era o momento dela relatar suas alegrias. Ela pegou o microfone e já começou a chorar, neste momento a abracei e disse: “Não precisa falar, só fale se realmente quiser”. Mas ela insistiu que queria falar, que precisava contar para todos os colegas sobre a sua alegria. Então ela respirou fundo e começou: “Estou muito feliz e ao mesmo tempo triste. Hoje meu dia foi maravilhoso, vou agradecer a Deus por esse dia para sempre. Hoje encontrei minha paz e felicidade. Mas junto com todos esses sentimentos me sinto triste também, angustiada, com medo”. Percebi que todos no auditório estavam atentos para o que ela ia dizer. Então ela disse: “Meu pai hoje perdeu o emprego, trabalho que era fundamental para manter a nossa família, não sei o que será de nós agora”. E ela continua o desabafo em meio a muitas lagrimas: “Esse é o motivo da minha tristeza, a demissão de meu pai. Mas estou feliz também, estou confusa”. E perguntou a plateia olhando para mim: “É possível acontecer isso? Alegria e tristeza ao mesmo tempo?” E continuou: “Tenho quinze anos de idade, e durante todo esse tempo  meu pai nunca havia almoçado comigo, ele não tinha tempo. Mas hoje por causa da sua demissão, ele foi almoçar em casa, e juntos almoçamos em família. Senti uma alegria incrível, queria mesmo era parar o relógio para sempre naquele momento”. Ela foi aplaudida pelos colegas e a abracei. Todos na plateia se sensibilizaram com o desabafo da garotinha, inclusive eu. Encerrei a palestra com alguns comentários e sai do palco muito emocionado, e aí pensei: Quantas famílias hoje ainda almoçam juntas? Lembro que na minha infância isso era uma obrigação. O almoço só era servido com todos juntos na mesa, seguido por uma oração! Hoje sei que essa atitude de meus pais foi fundamental para a construção da minha personalidade; personalidade essa que me orgulha muito.
Parece que as famílias se dissolveram, e os adolescentes estão com a alma aflita, perdidos. Para silenciar suas dores preferem recorrer as drogas, mas de quem será a responsabilidade? Dos jovens, dos pais ou da sociedade? Certamente dos pais, que deixam a educação dos filhos nas mãos da escola. Agora entendo porque nosso mundo está assim. Com muitos adultos orgulhosos, prepotentes e com vários transtornos psicológicos.  Peço à você, pai ou mãe, que lê esse texto: Faça o impossível para estar junto ao seu filho ou filha. Teremos um mundo melhor se você fizer a sua parte como pai ou mãe. Se aconteceu de ter um filho ou filha, assuma a responsabilidade da sua educação. Por isso, agora mesmo, chame logo seus filhos para um almoço ou jantar. Vamos assim contribuir para um mundo melhor.